Aos cotistas
Em meio à crise causada pelo COVID-19 e alta volatilidade dos mercados, resolvemos fazer uma breve apresentação em vídeo sobre o conteúdo de nossa carta aos cotistas na qual os atualizamos sobre nossa visão e posicionamento. Comentamos, também, alguns investimentos relevantes presentes na carteira do Joule Value FIA.
Convidamos todos a assistir o vídeo e ler abaixo nossa atualização da carta sobre o COVID-19. Recomendamos a leitura, também, de nossa carta inicial sobre o Corona Vírus.
Acontecimentos e notícias recentes referentes ao Corona Vírus e o aumento de casos de infecção fora da China impactaram significativamente os mercados de ações no Brasil e no mundo. Assistimos quedas generalizadas em preços de ações negociadas na B3.
Destacamos que a estratégia do fundo é 100% focada na análise individual de empresas, sem alavancagem, sem uso de derivativos. Investimos como sócios das empresas e taticamente não montamos posições com viés top down. Pela nossa abordagem o cenário macroeconômico é capturado através dos seus reflexos nos negócios das companhias. Impactos econômicos como os causados pelo COVID-19 não são medidos indiretamente através dos seus impactos sobre o PIB, taxa de desemprego e outras variáveis macroeconômicas, mas diretamente através da modelagem explicativa de cada uma das empresas que analisamos. Focamos, assim, em stock picking.
Nesse cenário de queda generalizada de ativos, fica clara a discrepância de perda do valor de mercado de empresas menores ou menos líquidas em relação empresas maiores e mais líquidas, abrindo grandes oportunidades para estratégias como a do Joule Value FIA, com foco na exploração de assimetrias de informação, avaliação e arbitragem de horizonte de investimento.
O cenário atual de stress favorece, em um horizonte mais longo, investidores fundamentalistas especialistas em empresas individuais. O passar do tempo é fundamental para essa estratégia. O timing exato de o quanto a crise durará não importa tanto. No final de janeiro, o choque do COVID-19 estava absolutamente fora do nosso radar. Tivemos que reconstruir cenários realistas e reavaliar nossas posições. Desde a 4ª de cinzas, tivemos captação liquida de R$ 3 MM. Por precaução, aumentamos momentaneamente nosso caixa para cerca de 5% do patrimônio do Fundo. Esse caixa não será mantido para proteção, trata-se de uma reserva de liquidez para atender liquidações em datas que seguem dias de circuit breaker
Nas últimas semanas nos debruçamos sobre as empresas, revisitamos nossos modelos para avaliar de forma objetiva seus novos valores dentro dos cenários possíveis. Julgamos que a cota do Joule Value FIA é hoje mais atrativa do que qualquer uma das nossas posições individuais. Temos nesse momento boas oportunidades de gerar valor a partir da nossa gestão ativa para investidores com horizontes mais longos de investimento.
Histórico:
Conforme descrevemos na nossa carta anterior, o mercado segue refletindo os impactos econômicos, sociais e políticos do vírus Covid-19 (Corona vírus). Enquanto o número de infectados aumenta, crescem as medidas de contenção do vírus através de duras restrições de circulação de pessoas além de paralisações que prejudicam diretamente as empresas. Relacionando de forma direta as medidas de contenção ao número de infectados, o comportamento do mercado continua a seguir a função [∆ Valor de Mercado = f (número de infectados)]. Temos assistido às maiores e mais rápidas quedas da história com poucos dias de alta, insuficientes para recuperar os preços das ações.
Quanto caíram as ações
Numa análise mais micro, que engloba a performance das ações individualmente, diferenças de liquidez explicam significativamente essa dispersão.
Nossa visão sobre as quedas
Para nós, o Valor Econômico da empresa é refletido no médio-longo prazo no Valor de Mercado. Variações do valor econômico são geralmente mais rapidamente percebidas e refletidas pelo mercado. Como fundamentalistas, a maior parte do nosso trabalho está em entender e quantificar esse valor econômico e arbitrar o valor de mercado em função da relação entre os dois, onde ineficiências de mercado existem.
Com o COVID-19, houve uma mudança de cenário macroeconômico que, dentro da estratégia desses fundos, desencadeou uma realocação de carteira através da venda das empresas mais expostas; justamente as relacionadas ao varejo interno e aquelas de crescimento. Como os fundos de ações bottom-up já estavam comprados, com uma captação liquida mais baixa, não foram capazes de absorver todo o volume de venda.
A ineficiência de mercado citada acima é diretamente relacionada com a liquidez. Em mercados extremamente líquidos, essa ineficiência é menor. Pelo movimento de venda das últimas semanas, a assimetria entre valor econômico e valor de mercado (ineficiência de mercado) aumentou consideravelmente. A exemplo, vejam a diferença da queda entre ações tidas como blue chips (1º tier) e ações menos liquidas (2º tier) nas últimas semanas.
Nesse momento, investidores fundamentalistas como nós, têm ferramentas para calcular de forma objetiva o risco específico das empresas, o tamanho potencial e provável do impacto do vírus nos seus lucros e gerações de caixa. Temos capacidade e ferramentas para estimar o custo da crise em função de cenários possíveis. O timing de quanto tempo a crise durará não é tão relevante para nós, uma vez que estamos sempre comprados em ações. À medida que recebemos aportes dos cotistas, alocamos prontamente o capital. Esse é o nosso trabalho e nosso mandato. Desde a quarta-feira de cinzas tivemos captação líquida positiva. Fomos precavidos em aumentar nosso caixa operacional para atender quaisquer resgates sem termos que vender nossas ações em dias de grandes quedas ou liquidar resgates mesmo que a Bolsa de Valores ficasse em um dia atípico fechada. Não teremos um “arrasto negativo” com essa posição de caixa, uma vez que terminaremos essa fase 100% comprados para valorizar novamente nossa cota.
O que temos feito
Nos debruçamos sobre as empresas investidas, conversamos com cada uma delas. De acordo com a nossa forma de trabalho, revisitamos os modelos quantitativos de cada uma. Dentro da nossa abordagem de evidence based investing, avaliamos de forma objetiva caso a caso dentro dos cenários econômicos possíveis.
Acompanhamos também de perto a retomada da economia chinesa onde indicações antecedentes como o consumo de carvão e atividade já estão retomando.
Nossas principais alocações
Mantivemos ainda boas posições em Guararapes e Centauro.
Somos acionistas da Guararapes há mais de 40 trimestres, conhecemos muito bem a empresa e não vemos qualquer risco que afete o nosso retorno no longo prazo. A empresa atravessou um dos piores períodos da história do país (2008-2016), durante o qual, sem qualquer chamada de capital, conseguiu multiplicar sua operação por três, tanto em área de vendas quanto em receita. Nesse período, seu valor econômico mais do que triplicou. Sem dúvida nenhuma, o COVID-19 impactará frontalmente as vendas dos 2T20 e 3T20, e ainda poderá fazer com que o ambiente macroeconômico piore após o COVID, impactando diretamente suas vendas por algum tempo.
Como a empresa tem uma das maiores alavancagens operacionais da bolsa de valores, a percepção de um investidor marginal será que seu valor econômico sofrerá uma grande erosão. Para nós, investidores de longo prazo, temos em mãos um “carrego” extremamente atraente com baixo risco de execução.
Estamos muito seguros de nossa posição na Trisul, que é negociada atualmente entre 4x e 4,5x o lucro de 2020. Trata-se de uma incorporadora que há anos se destaca por suas métricas operacionais. A decisão de compra de um imóvel antecede entre 6 meses e 1 ano a compra efetiva e, além disso, faz parte de um planejamento de médio a longo prazo para o comprador. A principal variável que condiciona a compra é o crédito e a renda. No caso do crédito, o choque sobre a atividade econômica permitiria um período mais longo de juros baixos. A discussão do risco dos juros não cabe por completo nesta carta. Passa pelo o desequilíbrio das contas públicas especialmente com uma menor arrecadação e a reversão do cenário de juros baixos. Uma Selic alta poderia afetar o sobre o volume da poupança, importante fonte do financiamento imobiliário. Todavia não há expectativa que isso ocorra esse ano e certamente teremos diversos “avisos” antecedentes. Um choque sobre o emprego, impacta primeiro a população de renda mais baixa. A companhia é focada em renda média-alta na região metropolitana de São Paulo onde tem um excelente banco de terrenos a disposição. O ciclo de vendas de um lançamento se estende por pelo menos dois anos e meio e o impacto da velocidade de venda durante a obra impacta economicamente muito pouco na rentabilidade do negócio. Nos últimos 20 anos, a renda sobre o valor da parcela de um imóvel nunca esteve tão alta. Em outras palavras nunca foi tão barato pagar a parcela de um imóvel. A redução da taxa de financiamento tornou a parcela do financiamento bem menor. Não vemos grandes riscos de demanda no nicho onde a empresa atua. Somem a todos esses argumentos o resultado bastante garantido para 2020 pelos critérios de contabilização dos resultados contábeis (IFRS). Conhecemos muito bem a administração da empresa e reconhecemos sua experiência (décadas em incorporação na mesma região). Em um cenário de extremo stress, poderíamos ser sócios da companhia por mais dez anos. Vemos seu valuation extremamente atrativo.
Nossas oportunidades
A exemplo dos cases de investimento acima, consideramos que a cota do Joule Value FIA é atualmente mais atraente do que qualquer ativo individual de sua carteira. Em termos das oportunidades, nos remetemos mais uma vez aos pontos sobre nossa filosofia de investimento que apresentamos em nossa última carta.
Por último, há claramente uma oportunidade de arbitragem de horizonte de investimento para os investidores que tem capacidade de investimento adicional em renda variável. Talvez, a maior assimetria disponível no mercado seja a diferença entre valor econômico e valor de mercado, que poderá ser capturada quando a liquidez e o stress do mercado melhorarem. Quando construímos nossos modelos sempre encontramos cenários possíveis que destroem valor, nossa “técnica” está em avaliar a probabilidade associada. Notem que encontramos cenários nos quais uma ação como a Guararapes pode até valer menos do que o preço atual, mas a probabilidade associada é muito pequena. O risco-retorno nesse momento está claramente a nosso favor.
Para isso, replicamos um modelo criado por Milan Batista, da University of Ljubjana, com dados fornecidos pela OMS e John Hopkins Medical School, em um modelo explicativo da propagação do vírus. Trata-se de um modelo de crescimento de regressão logística para estimar o momento de inflexão da curva de infectados pelo COVID-19 no mundo.
Não pretendemos, no entanto, prever o número final de casos pelo mundo. Temos como principal objetivo desta modelagem o acompanhamento do ritmo de crescimento das infecções e a identificação da reversão de tendência do número de casos.
Portanto, para visualização desta dinâmica identificamos 5 fases do crescimento de casos. Segregamos estas fases com referência a um momento (linha vertical em vermelho), tempo de pico da taxa de crescimento de infectados (curva azul), e a uma taxa de infecção
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Fase 2 – Crescimento rápido acelerado:
Fase 3 – Crescimento rápido desacelerado:
Fase 4 – Crescimento lento assimptótico:
Fase 5 – Platô:
Agradecemos a todos pela atenção
Equipe Joule Asset Management
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